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Zona Rural: em 31 dias crianças vão a escola em somente 10

Zona Rural: em 31 dias crianças vão a escola em somente 10

Os dias difíceis aconteceram em uma das linhas da região do Mimoso.

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Moradores denunciam também as más condições dos veículos. 

Por Kleber Souza

Já ouviu o dito popular que agosto é o “mês do desgosto”? Pois é...  O ditado descreve bem o que crianças e pais, que dependem do transporte escolar na Zona Rural de Ribas do Rio Pardo (MS), passaram neste mês de agosto.

Dos 31 dias do mês, 21 foram letivos, mas como na zona rural a carga horária é distribuída de segunda a quinta, os alunos tiveram 16 dias letivos, dos quais, o transporte público dos alunos que é terceirizado, aconteceu apenas em 10 dias.

O primeiro dia do mês e da semana caiu na sexta. Na segunda semana, faltou transporte um dia. Na terceira semana faltou transporte dois dias. Na quarta semana, a Kombi passou um único dia. E por fim, na última semana o transporte foi restabelecido e os alunos foram levados para a escola os quatro dias previstos.

Os dias difíceis aconteceram em uma das linhas da região do Mimoso. Na linha das fazendas Rainha da Paz, Vista Alegre, São Rafael, Fortaleza, Birigui, Luiz Estela e Santo Antônio. A licitação da linha pertence a empresária Andreia Aparecida Serafim. Em 20 de agosto, Andreia disse “Eu já solucionei o problema do transporte”. Mas o transporte da linha também não funcionou nos dias posteriores: 21 e 22.  

Procurado pelo Rio Pardo News, o diretor do departamento de transporte escolar, Anderson Roberto, disse em 15 de agosto que a empresa já havia sido notificada duas vezes este ano e teria 24 horas para providenciar outro veículo, o que não aconteceu.

“A situação que me passaram é que agora virou bagunça. Eles querem fazer a linha dia sim, dia não. Porque a Kombi está com defeito. Aí não dá certo né. As crianças já estudam 4 dias por semana, perder mais dois, aí não dá certo né (sic)”, relatou uma das mães.

“Eu liguei lá na secretaria já, mas o pessoal (Secretaria de Educação) falou que se todo mundo não ligar, esse negócio do transporte não vai adiantar não”, diz uma das mães, sobre a morosidade da Secretaria Municipal de Educação. 

 
E junho, por falta de transporte, os pais arriscaram a vida dos estudantes com o transporte na carroceria de camionetes.

KOMBI “FUMACEANDO” E SEM FREIO: DANE-SE!

Se não bastasse o descaso ser uma constante no transporte escolar da zona rural. Moradores reclamam também das péssimas condições dos veículos. “O que eu mais fico chateada é que eles falam que é feito revisão. Olha o motor, olha a situação da Kombi, sem freio, praticamente destruída aquela Kombi daquele jeito lá. Aí eles falam que é feito manutenção.

“A minha vizinha perguntou pro motorista da fumaça na Kombi. E se pegar fogo? Nossas crianças morrem! Ele disse: dane-se, procurem os direitos de vocês. Nossa, pra gente dói na alma. A gente recebe eles (motoristas) com tanto carinho, pra que fazer isso?”, questiona indignada.

Preocupada com a educação das filhas e também com a integridade física, a mãe relata os maus bocados que passou neste mês de agosto. “O jeito que a Kombi chegava aqui. Bem na porta da minha casa tem água, tem um rego d’água. Jogando água naquela Kombi, as crianças cheirando fumaça”, conta.

SEM SOLUÇÃO E INFORMAÇÃO, MAS COM HOSTILIDADE!

De acordo com moradores, alunos e pais nunca recebem informados dos dias que o transporte de alunos não funciona. E quando questionam, são mal tratados. “Não vem, não dá satisfação, não avisa quando não vai passar. A gente levanta de madrugada, fica esperando a Kombi e infelizmente não vem”.

Mães relatam que os professores da região tem conhecimento do problema, mas não podem fazer nada. “Ninguém dá informação, é assim filho. É só perguntar pros próprios professores a quantidade de faltas dos alunos por causa do transporte”, diz.

Há também relatos absurdos de que os responsáveis ‘dão risada na cara dos pais’. “O rapaz ligou pra dona das Kombi. Aí disse que ela falou que os amigos dela é policial, um é advogado, o outro é delegado, o outro é juiz, o outro é promotor. Eu disse nada a ver com isso, porque eu também tenho amigos assim. Gente, é simples, eles ganham pra isso, é só resolver”.

Se não bastasse o descaso com a Educação, que é responsabilidade do Município, há ainda relatos de tratamento hostil. “Isso acabou comigo”. Uma das mães conta que “do jeito que eles falam, parecem que acreditam na impunidade. Não dá pra entender”.

“A Kombi tava com uma fumaceira atrás, a gente foi falar com o motorista (na reunião). Ele mandou nós se danar e procurar nossos direitos. Quando queremos se informar é assim que nos tratam: danem-se, danem-se. Eu acho que isso aqui não é educação, a gente é do mato, eu e meu marido não temos estudo, nós quer que as nossas filhas tenha estudo. Então nós temos educação. Eu acho que não é bem por aí “Vai procurar seus direitos!”. Fala “não, calma gente, vamos ver o que a gente pode fazer né”, eu acho que é por aí, a gente tem que ter educação”, denuncia outra mãe.

Definitivamente o mês de agosto, para esses alunos e pais, fez valer a crendice: mau agouro. Fica a torcida para que a época “ruim” tenha terminado no último dia 31.

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