Produção de ferro gusa será suspensa por 12 horas em alerta ao governo
Data de Publicação: 2 de junho de 2025 19:03:00 Unidades da Vetorial em Ribas e Corumbá, irão paralisar as atividades por 12 horas nesta terça-feira (3).
A falta de uma política de incentivo do governo brasileiro à cadeia de produção do aço, hoje sufocada pela importação massiva do commodity, está provocando sérios prejuízos ao setor, em especial a indústria de produção do ferro-gusa.
Para alertar o governo de que medidas urgentes para salvaguardar a indústria nacional são necessárias, pelo menos 18 siderúrgicas de Sete Lagoas e região, em Minas Gerais, além das duas unidades da Vetorial em Mato Grosso do Sul, nos municípios de Ribas do Rio Pardo e Corumbá, irão paralisar as atividades por 12 horas nesta terça-feira (3).
“A principal intenção do movimento é mostrar a dificuldade que o setor vem passando, com preços abaixo do custo, pouco financiamento e pouco incentivo fiscal. A paralisação de 12 horas demonstra que o setor está se unindo”, resume Willian Reis, diretor de uma das siderúrgicas que integram o movimento.
Na paralisação desta terça-feira, das 6h às 18h, cerca de 2,5 mil toneladas de ferro-gusa, principal insumo para a produção do aço, deixará de ser produzida, volume equivalente a R$ 5 milhões, de acordo com William Reis.
Ele afirma que, caso não haja uma mudança de cenário no mercado, pode haver demissões no curto prazo.
“A partir do mês que vem haverá problema muito sério em relação às demissões, pois na próxima etapa [do movimento] talvez comecemos a discutir sobre quantos dias de produção reduziremos”, diz.
Só em Sete Lagoas, ele estima que haja 5.000 pessoas empregadas diretamente na siderurgia. Em Mato Grosso do Sul, nas duas unidades da Vetorial, são cerca de 500 empregos diretos, além dos indiretos, principalmente na área de florestas.
O movimento ocorre em um momento de excesso de oferta de aço no mercado interno, argumenta Reis. Desde 2022, o aumento da entrada de aço importado no Brasil, especialmente o chinês, que recebe subsídios do governo asiático, pressiona a siderurgia nacional.
Com preços mais baixos, ele derruba os valores do mercado brasileiro e por conta disso tem sido apontado como um dos principais vilões da siderurgia no país.
Nos quatro primeiros meses deste ano, as importações de aço aumentaram 27,5% em comparação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras.
Na última semana, o governo federal renovou uma medida que impõe um limite de importação. Alcançado esse limite, as empresas estrangeiras passam a pagar tarifas mais altas. No entanto, o setor considera a medida ineficiente.
Pressionado pelas importações, o mercado também vive uma transformação no campo das exportações. No último fim de semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que dobrará a taxa de importação de aço no país, que passará para até 50% ainda em junho.
“É uma ameaça com dois lados”, pondera Reis. Ela pode favorecer as exportações do mercado de ferro gusa, mas prejudicar o mercado nacional de aço.
"Acredito que se essas taxas realmente se mantiverem, visto que o presidente Donald Trump está mudando suas decisões todos os dias, o preço do gusa poderá melhorar, devido ao fortalecimento da indústria americana. Mas para o mercado interno, pode ocorrer maior entrada de produtos acabados, competindo com nossas aciarias", concluiu.