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Assim conheci a minha primeira professora: Mareide Monteiro de Lima

Assim conheci a minha primeira professora: Mareide Monteiro de Lima

Data de Publicação: 15 de outubro de 2024 13:09:00 Passava sobre a ponte do Rio Pardo, seguia mais uns 100 metros, à direita, dava em frente ao colégio.

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O sol acabara de nascer ao leste. Eu e a minha irmã havíamos andado uns 800 metros. Atravessamos a linha férrea, cruzamos o pasto do gado e chegamos ao local. Aproximadamente 7 horas e 30 minutos da manhã quando, pela primeira vez, timidamente, adentrei à escola e sentei em uma cadeira de madeira na Escola Rural Professor Aguiar Pimenta. 

O ano era 1981. Tinha 7 anos. Sete anos? Entrou atrasado na escola, hein! Não, na verdade não. As crianças só iam à escola a partir dessa data. Não existiam creches, pré-escolas, ceinfs ou muito menos, as EMEIs. 

Observei que a mesa para escrever também era de madeira maciça. A sala estava cheia de meninos e meninas, uns mais velhos outros mais novos. Quadro negro chamava a atenção. A professora morena tinha uma régua grande de madeira. Foi um momento diferente, novidade pura, de um certo medo, mas de alegria também, diria marcante, inesquecível.

A Escola Rural Professor Aguiar Pimenta localizava há uns 8 quilômetros do centro da cidade que era a área da estação ferroviária. Poderia dizer que ficava na estrada que seria o prolongamento da rua José Coleto Garcia, sentido à cidade de Água Clara. Passava sobre a ponte do Rio Pardo, seguia mais uns 100 metros, à direita, dava em frente ao colégio. Hoje a escolinha está desativada. Está de pé, firme, guardando muitas lembranças e saudade, porém, o prédio está totalmente abandonado. Aonde mesmo é essa escolinha? Podemos dizer que é onde funciona a pedreira do Dito Pereira.

Meu pai era ferroviário e nós morávamos na chamada “Turma 78”. Algumas casas, beirando à linha, onde moravam os trabalhadores responsáveis por aquele trecho da malha ferroviária. Morávamos, praticamente, há uns 100 metros da ponte de ferro da linha do trem. Da ponte de ferro avistava a ponte de madeira e vice-versa.

A sala era só silêncio e olhares perdidos. De repente entrou uma senhora morena. Disse em tom autoritário: - eu sou a professora Mareide. 

Assim eu fui apresentado e conheci a minha primeira professora: Mareide Monteiro de Lima. Era esposa do senhor Josias Lima, um fazendeiro que morava ali perto, aliás, bem ao lado da ponte de madeira do rio Pardo. Ela se deslocava a pé para dar aulas para nós. Dona Mareide era bem respeitada por todos. Por várias vezes ouvi meu pai dizer a ela que se fosse preciso que podia bater em nós se não estivéssemos obedecendo ou fazendo “artes”. Era enfático quando dizia: - e vocês obedecem a professora senão apanharão em casa. 

Dona Mareide era boazinha, atenciosa, sorridente, ensinava muito bem. Ótima professora. Com o tempo, nós fomos ficando muito à vontade e aí as traquinagens eram evidentes. De vez em quando era um forte e doído puxão de orelha, uma reguada de madeira no lombo, ou nos deixava de castigo.

Certa vez a brincadeira estava muito boa na hora do recreio que esquecemos de voltar à aula. Ela veio nervosa, brava, entraram todos na sala e sabe qual foi o resultado? Colocou todos ajoelhados, de castigo. 

Ótimas lembranças, ensinamentos e exemplos deixaram a professora Mareide.

Merecida foi a homenagem quando deram o seu nome à Escola Municipal Mareide Monteiro de Lima no bairro Parque Estoril II.

Neste mesmo ano a dona Mareide precisou se ausentar e nós recebemos uma nova professora. Era meio séria, parecia ser brava, um tanto enérgica, de pele branca. No começo estranhamos um pouco, entretanto, como o tempo percebemos que era gentil, educada, bem organizada, sabia ensinar também, e se mostrava durona quando precisava. Foi uma outra mãezona nossa. Sempre chegava montada a cavalo. Dizia que morava na fazenda Coqueirinho. Fazenda esta, que recebeu este nome por causa do riacho que se chamava Coqueirinho. Até hoje é um riozinho gostoso para se banhar nesses dias quentes.

Meu nome é Elizabete Gondim e serei a nova professora de vocês. Foi assim que ela se apresentou e marcou, positivamente, as nossas vidas daí por diante. 

Tive a oportunidade de ter em um ano duas primeiras professoras. Que honra! Que benção de Deus!

Obrigado professoras Mareide Monteiro de Lima (in memoriam) e Elizabete Gondim (para a nossa felicidade viva entre nós), por fazerem parte de um momento tão espetacular da minha vida exercendo um dos maiores e melhores ofícios da humanidade que é transmitir conhecimento e educação.

Em nome dessas duas pessoas brilhantes e fascinantes parabenizo a todos os professores e educadores da nossa querida Ribas do Rio Pardo.

O prédio da escola está de pé até os dias de hoje. Escola Rural Professor Aguiar Pimenta deixou de existir. A ponte de madeira sobre o rio Pardo as águas de uma enchente a levou, nunca mais foi refeita. A turma 78 foi à ruína, desapareceu. Os trens pararam de trafegar. O que ainda resta são as lembranças de uma fase ótima da vida de muitas pessoas rio-pardenses.

Viva o Dia do Professor!

Por Adriano Aparecido Nogueira em 15 de outubro de 2024

Professora Elizabeth Gondim sucedeu a professora Mareide na escolinha.

 

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