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Metade das famílias recusa doação de órgãos em MS

Metade das famílias recusa doação de órgãos em MS

Data de Publicação: 4 de maio de 2024 12:55:00

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Equipe da Santa Casa de Campo Grande durante cirurgia de transplante em 2020. (Foto: Assessoria) 

Por Jéssica Fernandes | CAMPO GRANDE NEWS

Em 2024, 559 pessoas aguardam na fila por um transplante em Mato Grosso do Sul, uma espera que gera ainda mais ansiedade quando o paciente se depara com uma estatística difícil de combater. Em Mato Grosso do Sul, no ano passado, de 106 potenciais doadores, em 59 casos as famílias não autorizaram a retirada dos órgãos. Isso significa que a cada duas doações, pelo menos uma não é efetivada por rejeição dos parentes que se recusam a assinar a documentação.

Em cada vida perdida, são vários os órgãos que pode ser retirados para salvar outras, mas essa ideia não convence todo mundo. A negativa também ocorre mesmo a pessoa tendo declarado em vida o desejo de ser um doador. Hoje, existe a possibilidade de registrar de graça esse desejo em cartório, mas sem poder legal e, no fim das contas, quem decide é a família.

A CET/ MS (Central Estadual de Transplantes de Mato Grosso do Sul) é responsável por coordenar o processo de notificação, captação e distribuição de órgãos. Para conseguir salvar a vida de alguém, o trabalho também envolve conscientização, buscas diárias de possíveis doadores no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), no SVO (Serviço de Verificação de Óbito), UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e CRSs (Centros Regionais de Saúde).

À frente do CET/MS, Claire Carmem Miozzo fala que a recusa dos familiares é algo que ocorre em todos os estados, mas no caso de Mato Grosso do Sul, o cenário é pior que na média nacional de 42% de recusas, por diferentes porquês.

"São vários motivos que as famílias alegam: desconhece a vontade do doador, demora na entrega do corpo, querem o corpo íntegro, familiar não foi atendido adequadamente no hospital, familiares não aceitam a morte encefálica ou nunca ouviram falar em doação de órgãos. Enfim, são muitos motivos, mas o principal é que desconhecem a vontade de ser doador de órgãos da pessoa que morreu", esclarece.

Apesar do número alto de negativas, a coordenadora explica que há formas de transformar o não em um 'sim'. “Quando as famílias são bem acolhidas e entrevistadas adequadamente, a probabilidade de dizer ‘sim’ à doação de órgãos é maior”, declara.

Como o processo de doação de órgãos é feito em hospitais, equipes são treinadas para fazer o acolhimento e entrevista familiar. Claire Carmem enfatiza que, no final, a palavra do parente é a última que vale.  "Se a família não autorizar a doação, agradecemos e explicamos quais os próximos passos para a entrega do corpo do ente querido", diz.

Além do papel do CET/MS para conseguir reverter a negativa, Claire destaca a importância de as pessoas falarem abertamente com a família sobre a vontade de serem um doador de órgãos. “É preciso que as pessoas conversem com seus familiares e deixem claro, em vida, o desejo de ser um doador de órgãos e tecidos. Quando a família sabe a verdade da pessoa, a chance de dizer sim à doação é maior”, afirma.

No Brasil, a doação de órgãos é feita por dois tipos de doadores: o vivo e o falecido. O primeiro contempla aqueles que têm o desejo de doar e podem realizar o procedimento, desde que o mesmo não prejudique a própria saúde. O segundo é o doador falecido que, mesmo tendo autorizado em vida, só terá os órgãos doados diante da autorização familiar. A liberação pode ser concedida por um cônjuge, pai, mãe, irmão ou avós.

Fila do transplante em MS - Conforme os dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde), dos 559 que estão na fila, 376 precisam do transplante de córneas e 183 do transplante de rim. Apesar de expressivo, o número não mostra na totalidade quantos sul-mato-grossenses necessitam de um ou mais órgãos para continuar vivendo. Isso porque, além dos citados acima, em Mato Grosso do Sul são realizados somente a transplantação de medula óssea e tecido músculo esquelético (ossos).

Neste ano, o Estado já realizou 112 transplantes, sendo o de médula o que lidera a lista com 92 procedimentos efetuados. Em seguida, vem rim (13), tecido músculo esquelético (4) e médula (3).

Em breve, o Estado poderá realizar transplante de fígado. O Ministério da Saúde e o Sistema Nacional de Transplante autorizaram o Hospital do Pênfigo unidade matriz a efetuar o procedimento. Mesmo com a autorização, a coordenadora da CET/MS explica que falta a Secretaria Municipal de Saúde contratualizar o serviço junto ao hospital para que esse tipo de transplante seja feito.

Assim que a medida for tomada, a CET/MS irá fazer o encaminhamento dos pacientes que precisam da doação. “A equipe vai avaliar o paciente, solicitar exames e se realmente tiver indicação para transplante de fígado, ele será inserido na fila e aguardar até que surja um órgão compatível. Quando tivermos uma doação, vamos ofertar para a equipe transplantadora que irá avaliar o órgão e a situação do receptor para que a gente possa realizar o transplante com segurança”, esclarece.

‘Doação é amor’ -  A lista para transplantes é única sem dar privilégios a pacientes da rede privada ou do SUS (Sistema Único de Saúde). Uma vez que o paciente entra, só resta aguardar e essa espera pode durar mais tempo do que a pessoa doente tem para doar. Em Campo Grande, três homens sabem por experiência própria que a decisão de ser um doador salva vidas.

 

 

 

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