“TIA ISA”

Distante de sua terra natal, o baiano aventureiro, Braulino Nogueira da Silva, provavelmente, aqui na região Centro-Oeste do Brasil, conheceu a paulista Venina Alves de Souza. Não deu outra! Namoro. O namoro virou paixão. Prova do amor entre os dois foram a concretização do matrimônio e a geração de uma família mato-grossense com a benção de oito filhos.

A vida no campo era muito boa, porém, preocupados com o futuro, precisavam oferecer estudos aos filhos. Decidiram vir morar no pequeno Vilarejo de Rio Pardo. Nos primeiros meses do ano de 1940, um pouco acima da Estação Ferroviária, numa manhã gostosa de sol, foram na “Escola Reunida João Ponce de Arruda”. O pai disse à atendente atrás de uma mesa de recepção do colégio: – bom dia, senhora! Viemos matricular os meninos.

A história vai nos revelar que a personagem, a filha mais velha entre as meninas, já com os seus 15 anos de idade, uma mocinha trabalhadeira, bem ativa, não muito tímida, cursou, juntamente com os demais, o primário, que era de primeira à quarta série.

A Iracy da Silva Almeida nasceu numa terça-feira, dia 24 de fevereiro de 1925 no Distrito de Atoladeira, na época pertencente ao município de Três Lagoas, onde emitiu a certidão de nascimento. Na verdade, Atoladeira é o nome dado a uma estação ferroviária que ficava no trecho entre Rio Pardo e Três Lagoas. Na atualidade dizemos que está entre Ribas e o município de Água Clara.

Isa se formou nas séries iniciais juntamente com os irmãos. Como a escola ainda não oferecia o “Ginásio e nem o Colegial”, cheia de vida e de sonhos, em plena juventude, realizou vários cursos oferecidos naquele tempo. Um deles era o de corte e costura. Devido ser bem religiosa, fez parte como membro das “Filhas de Maria”, que era realizado pela igreja católica. Com 19 anos, os fazendeiros da região convidaram a Iracy para dar aula, alfabetizar os alunos da zona rural, precisamente, em uma escola na Estação de Arlindo Luz, bem próximo da Estação Atoladeira, onde ela havia nascido.

A professora retorna à cidade de Ribas do Rio Pardo. No dia 21 de janeiro de 1949 casou-se com o Rio-pardense Benedito Alves de Almeida, filho de José Alves de Almeida e Laudelina Almeida Ferraz. Algum tempo depois do casamento, mudou-se para a Fazenda Água Santa, no município de Camapuã. Muitos anos lecionou em escolas, municipal e particular, sendo que nas horas de folga, alfabetizava os adultos.

Pode-se dizer que Iracy teve um casamento feliz até que a morte, de forma trágica, a separou do esposo em 1966 quando moravam no vizinho e fronteiriço município de Jaraguari. Mãe de Airton Alves da Silva (Gestor de Recursos Humanos), (In memoriam); Ademir Alves da Silva (Servidor Público Tributarista), (In memoriam); José Esterlito Alves da Silva (Servidor Público Aposentado); Cleide Maria Alves da Silva (Cabelereira); Geraldo Alves da Silva (Construtor Aposentado); Sebastiana Auxiliadora Alves da Silva (Educadora); Rosa Maria Alves da Silva (Educadora); Rubens Alves da Silva (Pedagogo e Advogado) e Maria Rita Alves da Silva (Educadora). Uma família grande, com 9 filhos, contudo, agora viúva, sendo o mais velho com 14 anos e a caçulinha com 6 dias de nascida, e diante dessa dificuldade, voltou à cidade de Ribas do Rio Pardo com a ajuda das suas irmãs Odete da Silva Fontebasse (In memoriam), Oneide Nogueira da Silva e Venina Lemos da Silva (a Fiúca) (In memoriam).

Não era de se acomodar. Iracy, em pouco tempo, conseguiu emprego para os três filhos mais velhos como operários na “Cerâmica Esteves e Marques”, que posteriormente passou a se chamar “Cerâmica Esteves e Cia”, fabricação de telhas e tijolos, que tinha o nome fantasia de “Cerâmica Rio Pardo”, e para a filha mais velha como empregada doméstica. Iracy enquanto cuidava dos outros filhos, da casa, trabalhava como costureira para ajudar no orçamento familiar.

Em 1972 foi convidada a trabalhar como “servente escolar” no horário noturno. Passou a ser “auxiliar de merendeira” nos períodos matutino e vespertino no “Ginásio Estadual Dr. João Ponce de Arruda”.

Todos os filhos estudaram no “Ginásio Estadual João Ponce de Arruda” matriculados pela dona Iracy. Cinco deles se formaram no Curso de Magistério, que era a formação de professor da época, oferecido pela então “Escola Estadual de 1º e 2º Graus Dr. João Ponce de Arruda”. Atualmente, três dos seus filhos, são educadores na rede de ensino local. No caminho e seguindo o exemplo da mãe, eles têm contribuído muito para o futuro de nossas crianças, jovens, adultos e da educação como um todo.

No ano de 1991 aposentou-se do serviço público, na área da educação, com o sentimento, a satisfação e a alegria do dever cumprido como mãe, como educadora, como profissional, como parte integrante que muito realizou pela formação do ser humano.

Na data de 03 de agosto de 1995, sofreu uma neoplasia cerebral, vindo a nos deixar aos 70 anos de idade. Uma perda para a família, para a educação, para a sociedade, mas uma recepção no céu, uma passagem para a eternidade. Enquanto esteve entre nós, neste plano terrestre, muitas sementes foram plantadas em solo fértil preparados por ela. Hoje os frutos são colhidos num majestoso pomar. Pessoa íntegra, lutadora, dedicada à família, ao trabalho, venceu os desafios e os obstáculos que a vida lhe apresentou com força, com fé, com coragem, dignidade e respeito. Uma mulher à frente do seu tempo.

Em 19997 começa o projeto para a construção de uma escola municipal pelo Prefeito José Domingues Ramos, o Zé Cabelo. Em 1998, de fato, inicia-se a obra. Em 27 de outubro de 2001 é inaugurada o colégio. A servidora pública da educação, com muito mérito, foi homenageada pelo Poder Executivo. A nova instituição de ensino recebeu o nome de Escola Municipal Iracy da Silva Almeida – ISA. Justa e louvável homenagem.

O Prefeito Joaquim dos Santos Oliveira (gestão 2005-2008), genro de dona Iracy, ampliou a Escola ISA construindo mais dois pavilhões. Roberson Luiz Moreira, prefeito de 2009 a 2012, realizou a construção da quadra poliesportiva coberta. Novamente prefeito, José Domingues Ramos (gestão 2013-2016), construiu mais dois pavilhões.

Em 2022 a Escola ISA completará 21 anos. Data também, que completará 27 anos que a “Tia Iracy” faleceu. A Escola Municipal Iracy da Silva Almeida – ISA – está localizada na Rua Rachid Abes, no Bairro Jardim Vista Alegre. Atende aproximadamente 980 alunos, do Pré-I ao 9º ano. Um número muito grande de discentes. É uma das maiores, senão, a maior, e mais completa escola da rede municipal.

Se a dona ISA estivesse presente, dia 24 de fevereiro de 2022, estaria completando 97 anos. Os seus feitos e o seu legado nos fazem relembrar, contar, agradecer, e para muitos, sentir saudade. Contada todos os dias de aula na cantina, nos corredores, nas salas, na quadra, no ofício do professor e fazendo parte do amanhã dos alunos, a sua história permanece viva “Tia Iracy”.

Nota:

Braulino Nogueira da Silva, pai de Iracy da Silva Almeida, era jardineiro. Aposentou pela prefeitura como servidor público. Foi homenageado com nome de rua no Bairro Santo André.

Venina Alves de Souza, mãe de Iracy da Silva Almeida, era dona do lar. Ela não recebeu homenagem, porém, sua filha, registrada com o mesmo nome por nascer na mesma data da mãe, em 17 de dezembro, Venina Lemos da Silva, foi o nome dado a uma rua no Bairro Jardim Vista Alegre. Venina Lemos da Silva (a Fiúca) (In memoriam) era esposa do senhor Zé da Sana (taxista da praça).

Odete da Silva Fontebasse era esposa do popular Zé Grilo. Faleceu em 2021 vítima da doença Covid-19.

Oneide Nogueira da Silva era esposa do senhor Waldemar Francisco da Silva. Hoje mora na capital Campo Grande.

“O maior patrimônio de uma cidade são os seus habitantes”.

Por Adriano Aparecido Nogueira em 24/02/2022