Por Adriano Nogueira

“A Conceição morava bem perto da estação ferroviária. O Sebastião mais afastado, ao leste, saída para a Cidade de Três Lagoas (nessa época não existia a cidade de Água Clara). Uns diziam que a Conceição e o Sebastião eram muito amigos. Outros falavam que andavam de mãos dadas pelas poucas ruas do vilarejo. Os mais ousados afirmavam que eram enamorados, um belo casal. Um senhor octogenário sintetizou que Ribas do Rio Pardo é um filho dessa união”.

Por ventura, às vezes, existiu mesmo este casal Ribense, este matrimônio, entretanto, sabemos que não passa de um simples pensamento de uma imaginação fértil ou uma historinha criada por alguém que personificou os dois, tornando-os moradores reais desta terra. Afirmamos isso, porque a Conceição era imaculada, sem manchas, sem pecado, não teria nenhum envolvimento amoroso, muito menos com outro santo.

Aqui mencionamos a trajetória da Imaculada Conceição ou Nossa Senhora da Conceição e São Sebastião que são dois santos católicos que se tornaram os padroeiros de nossa cidade. São dois feriados municipais celebrados pelos fiéis: Oito de dezembro é o dia de Nossa Senhora Imaculada Conceição e hoje, dia vinte de janeiro, o de São Sebastião.

Ao longo dos anos, por meio dos dois, abriram caminhos, vários acontecimentos, inúmeros fatos, e assim, incontáveis frutos foram gerados. Mas, por que justamente esses dois santos? Acreditamos ter origem na devoção pela predominância da igreja católica no município; talvez pela influência de Portugal, desde que éramos colônia; posteriormente, pelos próprios portugueses que aqui fixaram residências; pela importância ou pela história de cada padroeiro. 

A Nossa Senhora Imaculada Conceição é a virgem Maria, mãe de Jesus Cristo. Conceição é um nome português de origem religiosa que veio do latim “conceptus”, que quer dizer fruto, concepção, nascimento, fecundação. Religiosamente, está relacionada a imaculada concepção de Jesus Cristo, uma vez que Maria teria dado à luz a Jesus sem o pecado original. Ela é a rainha padroeira do país de Portugal. Relatos de alguns estudos revelam que Maria – viva, em carne e osso – teria subido ao céu treze anos depois da morte de Jesus Cristo. A única pessoa da humanidade a não experimentar a morte.

O francês São Sebastião foi um soldado romano. Tornou-se comandante da guarda pretoriana. Após se converter ao Cristianismo usava do seu poder militar para visitar os encarcerados que seriam levados ao coliseu para serem mortos pelos leões ou em lutas com os gladiadores. Levava mensagens de encorajamento, de força, de ânimo e sempre dizia que existia vida em Cristo depois da morte. São Sebastião foi descoberto pelo imperador e forçado a renunciar ao cristianismo. Diante do imperador não negou a sua fé sendo sentenciado à morte. Amarrado a uma árvore recebeu várias flechadas pelo corpo. As flechas não o mataram. Umas mulheres o resgataram e ele sobreviveu. Voltou a exercitar o Cristianismo. Em 287 a.C. foi ao imperador para pedir que parasse de perseguir e matar os cristãos. Acabou novamente preso e açoitado até morrer. Seu corpo foi jogado no esgoto da cidade de Roma para que não fosse descoberto e se tornasse um mártir. Não deu certo. O corpo foi encontrado por uma mulher e enterrado próximo dos apóstolos. A devoção ao santo inicia-se no século IV, quando o imperador Constantino, que tinha se convertido ao Cristianismo, construiu a Basílica de São Sebastião para abrigar o seu corpo em Roma.

“Se fôssemos dar sequência ao conto do início do texto, diríamos que o Sebastião está bem velhinho, contudo, em pé, no mesmo lugar, com as marcas do tempo. A Conceição voltou ao pó”.

O São Sebastião foi o primeiro bairro a existir em nossa cidade. Agora, será que a Igreja de São Sebastião teria sido a primeira a ser construída no Distrito? E ela recebeu este nome por estar situada no Bairro São Sebastião? Ou o bairro recebeu o nome por causa da igreja? Quem nasceu primeiro?

E a Nossa Senhora da Conceição teria sido a primeira igreja a ser construída no Distrito? Qual a cronologia correta: primeiramente, a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição ou o recebimento, a denominação da Rua de Conceição do Rio Pardo, por passar em frente à casa religiosa? Quem veio antes de quem? Não temos a certeza dessas respostas.

A verdade é que a primeira Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi derrubada. Foi ao chão há alguns anos. A cidade tem a segunda igreja levantada. Está é muito maior. Com arquitetura moderna, e desta vez, de frente para a Rua Senador Filinto Müller. Nossa Senhora da Conceição I e II se tornam dois recentes bairros da cidade substituindo boa parte da extinta Vila Nova, que já não existe mais. Já a Igreja de São Sebastião e o Bairro São Sebastião continuam do mesmo jeito de quando da sua originalidade.

É comum no Brasil as cidades terem os seus padroeiros. Geralmente essas definições partem ou são aprovadas e designadas pelas autoridades competentes de cada localidade seguida pelos seus fiéis. Padroeiro tem sua origem no latim “patronus”, que significa protetor, defensor, intercessor, medianeiro, tendo uma derivação de “pater”, que quer dizer, Pai.

FOTO RIOPARDONEWS

Sem querer entrar no mérito de religião, tão menos causar polêmica, contendas, vou repetir uma pergunta que um cidadão me fez: Ribas do Rio Pardo, pelo que observei, seria um município muito católico ou é impressão minha? Não soube responder o que ele me questionou, porém, suscitou um ponto de interrogação na minha cabeça. Perguntei porque tal pensamento. De prontidão, me confidenciou que quase todos os bairros dessa cidade pequena recebem nomes de santos católicos. Até certo ponto ele tem razão, ou seja, a resposta é uma incógnita, não sei a que ponto ele queria chegar. Entendo que, talvez, seria porque os evangélicos, protestantes ou de outras denominações religiosas participam pouco do processo político e quase não ocupam os cargos referentes às administrações de um município, tais como Legislativo e Executivo. Prova disso, é que só agora está acontecendo uma manifestação bem evidente de evangélicos ingressando na política local. Na legislatura anterior da Casa de Leis, o município alterou a lei, aprovando e instituindo feriado municipal, denominado Dia do Evangélico, comemorado pelos religiosos no dia 30 de novembro.

Indiscutivelmente, a cidade tem 12 localidades. São eles: Nossa Senhora de Aparecida; Nossa Senhora da Conceição I; Nossa Senhora da Conceição II; Santa Clara; Santa Emília I; Santa Emília II; Santo André; São Francisco; São João; São Joaquim; São José e São Sebastião. Coincidentemente, do total de 36 bairros e vilas que compõem a zona urbana, um terço são nomes de santos.

Tem uma passagem engraçada de um filho rio-pardense. A avó era católica e batizou todos os filhos na antiga Igreja de Nossa Senhora da Conceição. O tempo passou e a avó virou evangélica fervorosa. Sempre queria que os filhos a seguissem e fossem batizados na igreja evangélica. A sua filha mais velha teve um filho e lhe deu um certo nome. O neto cresceu. Foi à escola. Um dia, a mãe impossibilitada de buscar as notas do filho na Escola Eduardo Batista Amorim (EBA), pediu ao tio do aluno essa gentileza. O tio foi e voltou sem sucesso. Quando a mãe chegou do trabalho, o tio lhe contou que ninguém achou o nome da criança na escola. Procuraram em todas as salas, todas as turmas e nos outros turnos também e não encontraram. Não tem nenhum registro dele lá, não. Para surpresa de todos que ali estavam, a irmã começa a rir sem parar. Depois de ninguém entender nada de tanta alegria, a mãe da criança, quase chorando de tantas gargalhadas disse: - Agora não tem mais jeito. Vou falar a verdade. O primeiro nome do meu filho não é esse. Não quis falar isso para ninguém por causa da senhora, minha mãe. Eu fiz uma promessa a um santo e coloquei o nome dele no meu filho. Por isso você e ninguém encontrou. Era segredo. Ele se chama Sebastião.... E, com certeza, Ribas tem muitos Sebastiões e Conceições.

Bom, Ribas do Rio Pardo tem São Sebastião como padroeiro. Feriado municipal. Independente, se somos evangélicos, católicos ou de outras denominações religiosas, não importa, o feriado oferece, debaixo da lei dos homens, um dia de descanso, de lazer, de estar coma família a todos os munícipes.