Sem perder rebanho, pecuária dá espaço para novas culturas em Mato Grosso do Sul
Lavouras e florestas ganharam 1,2 mi de hectares, enquanto pastos perderam 2 mi
Plantações da região leste são destaque do Censo - Foto: Gerson Oliveira / Correio do Estado |
Por Correio do Estado
Mesmo sem perder seu volume de rebanho bovino, a área de pastagem para pecuária de Mato Grosso do Sul encolheu e abriu espaço para outras culturas, como as lavouras temporárias, que incluem a soja, a cana-de-açúcar e o milho, e para as florestas plantadas, principalmente de eucaliptos. De acordo com dados do Censo Agro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem, nos últimos 11 anos, as áreas de pastagens plantadas do Estado tiveram redução de 14% – saíram de 14,8 milhões de hectares em 2006 para 12,7 milhões/ha em 2017, uma perda de 2,1 milhões/ha.
Em contrapartida, as áreas de lavouras temporárias cresceram 55% (crescimento de 1,1 milhão/ha) e chegaram a 3,3 milhões/ha de área. Além disso, as florestas plantadas, muito presentes na costa leste do Estado, próximas às fábricas de celulose e papel em Três Lagoas, tiveram aumento de 809% – saíram de 104 mil/ha em 2006 para 950 mil/ha no ano passado.
A analista-chefe da equipe de grãos da Rural Business, Tania Tozzi, explica o que motivou a migração dos pecuaristas para a agricultura, especialmente para as produções de soja e milho. O principal motivo teriam sido as condições econômicas mais favoráveis do setor de grãos. “A atividade [pecuária] foi estrangulada pela diminuição da margem de lucro e produtividade muito menor que a agrícola. Então, os pecuaristas que tiveram condições, ao longo desta última década, migraram parcial ou totalmente para a atividade de agricultura”, ressalta.
Na avaliação da especialista, a “tecnificação” chegou a tal performance, que, hoje, o Brasil empata com os Estados Unidos em produtividade e qualidade. “Isso foi possível porque os agricultores investiram em maquinário, insumos e tecnologia produtiva. Um termômetro foi a diminuição no plantio de milho 1ª safra, já que o período de verão foi utilizado para cultivo da oleaginosa e o inverno, para o cereal de 2ª safra. Em outros estados, a organização está avançada a ponto de se conseguir três safras, sem contar dois faturamentos mínimos por ciclo”, complementa.
FLORESTAS
Além do aumento expressivo de 809% nas florestas plantadas, o Estado também se destaca por ter cinco cidades no topo do ranking de maior produção de eucalipto do País, são elas: Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo, Selvíria e Brasilândia. O município de Piraí do Sul ocupa o quarto lugar e se localiza no estado do Paraná.
Mato Grosso do Sul também ocupa o terceiro lugar em número de pés de eucalipto existentes nos estabelecimentos agropecuários: 1,1 milhão de peças.
De acordo com o presidente da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore/MS), Moacir Reis, o desenvolvimento observado na área de florestas plantadas acontece em razão de três fatores: chegada de novas indústrias no Estado, logística e legislação ambiental.
“O segmento de florestas atende, na atualidade, a demanda de celulose, serraria e carvão vegetal e, somando os empregos diretos e indiretos, alcança o número de 100 mil pessoas colocadas. Atualmente, nosso estado é o segundo produtor nacional de área plantada de eucalipto e perde somente para o estado de Minas Gerais, posto que podemos ultrapassar nas próximas duas décadas”, observa o representante dos produtores.
Reis acrescenta que 95% da produção em florestas plantadas é utilizada a espécie de eucalipto. “A adaptação da espécie se comprovou na produtividade eficiente e na diversidade de utilização”, conclui.
REBANHO
Mesmo perdendo mais de 2 milhões de hectares em pastagens plantadas, Mato Grosso do Sul passou à frente de Goiás no ranking de rebanhos bovinos e agora ocupa a terceira posição do País, com 18,1 milhões de animais.
Além disso, o município de Corumbá continua a ter o maior rebanho bovino do Brasil, com 1,5 milhão de cabeças, seguido por Ribas do Rio Pardo (4º lugar nacional), Aquidauana (12º lugar) e Porto Murtinho (13º lugar).
PESQUISA CONTINUA
Para José Aparecido de Lima Albuquerque, coordenador técnico do Censo Agropecuário de MS, mesmo que o balanço divulgado ontem seja preliminar, o Estado obteve bons resultados em todos os setores, além dos grandes destaques registrados nesses 11 anos. “As matas e florestas foram os destaques, porque aconteceu um aumento significativo até mesmo no plantio de eucalipto nos municípios”, disse.
Porém, o coordenador do Censo Agro afirma que alguns dados ainda serão coletados, apesar de não alterarem em grandes proporções o primeiro resultado. “Ainda vamos coletar alguns dados em municípios e setores que não foram alcançados, como parte da região do Pantanal, por exemplo, mas pretendemos finalizar tudo até setembro deste ano”, finalizou.