À beira da falência, Siderúrgica de Aquidauana pede recuperação judicial
Grupo Simasul recorreu à Justiça para pedir, também, que o fornecimento de energia seja restabelecido de forma a não comprometer o seu funcionamento
Simasul credita ao cenário nacional e internacional da economia, bem como falta de ação do governo federal, a situação financeira do grupo. (Foto: O Pantaneiro/Reprodução) |
Do Campo Grande News
Com R$ 7 milhões em dívidas com pessoal, siderúrgica pede recuperação judicial
Com dívidas apenas na área trabalhista na casa dos R$ 7 milhões e alegações sobre o risco para cerca de 250 empregos, bem como a parte de seu patrimônio, o grupo Simasul, mais conhecido por uma siderúrgica mantida em Aquidauana –a 135 km de Campo Grande– apresentou pedido de recuperação judicial à Justiça estadual. Na mesma ação, solicitou que tenha bens e valores protegidos e cobrou a religação da energia elétrica, cortada pela Energisa no início do mês, sob o argumento de que a medida inviabiliza sua atividade econômica.
Liminarmente, o juiz Giuliano Máximo Martins, da 1ª Vara Cível de Aquidauana, negou barrar ordens de reintegração de posse ou busca e apreensão contra o grupo, mas determinou que o fornecimento de eletricidade fosse retomado diante dos riscos que da medida para o grupo, “inviabilizando sua recuperação”.
Além da própria Simasul, o pedido é assinado pela Transdelta Transportadora Ltda. (responsável pelo transporte do ferro-gusa e do carvão vegetal), Auto Posto Asa Branca Ltda. (que abastece a frota), DNA Energética Ltda. (produtora de carvão vegetal consumido pela siderúrgica) e Delta Indústria Siderúrgica e Reciclagem de Metálicos Ltda.
Siderúrgica afirma que mantém 180 postos de trabalho. (Foto: PMA/Reprodução) |
Trajetória e crise – Na ação, reforça-se que a Simasul nasceu a partir da Siderúrgica Sul-Mato-Grossense Ltda., inaugurada na década de 1970 e que encerrou as atividades na década seguinte. Em dezembro de 2004, teve início a nova fase de operações, após investimentos que viabilizaram a produção de 150 toneladas de ferro-gusa por dia, “desempenhando relevante papel social na cidade onde foi instalada, com a geração de inúmeros empregos diretos e indiretos”.
Com o tempo, as demais empresas foram incorporadas para dar suporte à atividade principal, originando o grupo.
A recuperação judicial é resultado, conforme o pedido encaminhado à Justiça, de “intercorrências no cenário da micro e macroeconomia nacional e internacional”, que atingiram o grupo “criando ambiente de dificuldade econômico-financeira transitória atualmente instalado”.
O revés é creditado principalmente ao período entre 2014 e 2017, “com o advento da maior crise econômica que o Brasil já vivenciou”, apontando que, em 2018, a reação do mercado não foi suficiente para compensar as perdas e o endividamento do Grupo Simasul. “Por outro lado, também não houve, por parte do governo federal, a imediata implantação de medidas de defesa comercial no mercado internacional, por pressão do excedente de capacidade produtiva no mundo, especialmente na China”, prosseguiu.
Tamanho – “Fixadas as premissas de mercado, é possível dizer que o componente de desestabilização financeira do grupo Simasul pode ser dividido entre a lenta reação do mercado do aço após as recorrentes crises oriundas do mercado externo, do baixo crescimento econômico do país, bem como a ausência de uma política de base para a indústria nacional para compensar os prejuízos decorrentes de tais eventos”, salientou a defesa do grupo, ao apontar que foram mantidos “centenas de postos de trabalho” (são relatados 180 na siderúrgica e 70 nas demais empresas do grupo) que causaram o endividamento na casa de R$ 7 milhões –o qual são somados débitos com fornecedores, financiadores e outros–, não havendo no momento solução de curto prazo para enfrentamento do quadro.
Com essas bases do pedido, foi solicitado auxílio para a posterior instalação do plano de recuperação judicial. A empresa alegou haver risco de interrupção das atividades com o corte no fornecimento de energia elétrica no início deste mês, “sobrevivendo apenas com geradores”.
O pedido de restabelecimento de energia foi atacado, sendo prevista ainda multa de R$ 200 por dia em caso de descumprimento (até o limite de R$ 5 mil). Porém, a suspensão de ordens de reintegração de posse ou busca e apreensão de bens essenciais à empresa (como veículos e maquinário) e de créditos de clientes ou valores trabalhistas. O grupo também aguarda a nomeação de administrador judicial e a suspensão de ações de execuções contra suas integrantes, entre outras medidas relativas ao pedido de recuperação.