Florestas de Mato Grosso do Sul superam 1,1 milhão de hectares
Segundo a Reflore, Ribas do Rio Pardo tem forte chance de receber uma nova empresa de celulose
Floresta de eucalipto tem mais de 1,1 milhão de hectares no Estado - Foto: Arquivo/Correio do Estado |
Mato Grosso do Sul fechou 2018 com 1,1 milhão de hectares de florestas plantadas, ultrapassando a meta de 1 milhão de ha prevista apenas para 2030 pelo Plano Estadual de Florestas, porém, o consumo projetado para esta expansão ainda está aquém do esperado. De acordo com estimativa da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore-MS), no ano passado, o consumo chegou a 20 milhões de metros cúbicos, 33,3% menor do que a meta inicial, de 30 milhões de m³.
Com o preço atual da madeira de eucalipto inferior ao de 10 anos atrás e o custo em alta, o setor florestal de MS dispõe de oferta, mas não há demanda suficiente e, em razão desse cenário, os valores estão reprimidos. De acordo com o diretor-executivo da Reflore-MS, Dito Mário, a média paga pelo m³ recuou de R$ 60 para R$ 48 a R$ 55 – valor que varia de acordo com diversas condicionantes, como a proximidade da área plantada com o local de compra e exportação e até mesmo as condições das estradas.
O valor considerado razoável para haver equilíbrio econômico-financeiro da atividade seria entre R$ 65 e R$ 70 o m³. “Há um excesso de áreas, os custos subiram e, com isso, os preços caíram”, explicou. Antes, exemplifica, plantava-se um hectare com R$ 6 mil, e hoje esse custo está em R$ 8,5 mil, aumento de quase 42%.
“O nosso setor florestal é muito jovem, ainda não está consolidado e o Brasil vem de uma recessão. Nós contamos com as atividades da celulose, com a vinda de mais uma fábrica no Estado, da siderurgia, do polo de madeira serrada. Outras fontes importantes são a energia e o etanol do milho, que também precisam de madeira para a secagem”, explicou Mário.
Quanto às potencialidades e à destinação dessa produção, as principais possibilidades para expansão do consumo são: a instalação da terceira fábrica de celulose no Estado, com retomada da siderurgia – há expectativa em torno da abertura de fábrica da Vetorial, hoje com base no município de Corumbá, no segundo semestre de 2019 –; a criação e consolidação de um polo de madeira serrada na região de Água Clara; e o uso da madeira em empreendimentos de energia e também na produção de etanol de milho, principalmente com a implantação da indústria da BBCA em Maracaju.
Em relação às vendas de celulose para o mercado internacional, o produto foi o primeiro colocado na balança comercial de MS no ano passado, com receita de US$ 1,94 bilhão. Para este ano, com a entrada da segunda linha da Fibria/Suzano em produção, o volume estimado é de 5,2 milhões de toneladas – sendo 3,5 milhões de toneladas para a Fibria/Suzano e 1,75 milhão de toneladas da Eldorado. Desse montante, 90% seguem para exportação, de acordo com a Reflore. “A nossa expectativa é de crescimento, apesar dos reveses”, destacou.
INCERTEZA
A apreensão do setor está relacionada aos impactos futuros, gerados pela cobrança do Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário do Estado de MS (Fundersul). Projeto de lei que estende a contribuição do fundo também para produtores de floresta plantada foi aprovada pela Assembleia Legislativa e aguarda sanção do governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Depois de articulação do setor com os deputados e equipe de governo, a proposta recebeu emendas escalonando o porcentual de contribuição. Pela matéria aprovada, a alíquota, antes de 7,2% sobre uma Unidade Fiscal de Referência de MS (Uferms), passou para 3,9% em 2019 e 5,4% em 2020. Considerando o valor de dezembro da Uferms, de R$ 27,57, a contribuição será equivalente a R$ 1,07 por metro cúbico do produto no próximo ano, subindo para R$ 1,48 por metro cúbico em 2020. A preocupação é com uma possível fuga de investimentos, diante da mudança de regras colocada pelo Executivo.
Segundo Mário, o setor de florestas plantadas plantou 1,1 milhão de hectares no Estado, recuperando áreas que estavam degradadas, além de dinamizar os municípios da Costa Leste. Somente as duas grandes indústrias de celulose [Fibria e Eldorado] investem mais de R$ 100 milhões em recuperação de estradas e pontes, além de solicitações das próprias prefeituras da região – são, ao todo, 11 municípios da Costa Leste impactados.
Empreendimentos também foram atraídos para a região, entre eles, a fábrica de MDF que se instalou em Água Clara. “Em termos de consumo, não é tão grande, mas, em efeito multiplicador [para agregar valor à cadeia da região], é muito significativo”, pontuou.
Ainda segundo a Reflore, Ribas do Rio Pardo tem forte chance de receber uma nova empresa de celulose e Brasilândia também já tem reflexos dos investimentos.
“A Costa Leste tem dificuldade de introdução de novas culturas, porque é um solo quartzoso. Então, a silvicultura vem para somar. De 10 a 12 milhões de hectares que o Estado tem de áreas degradadas, recuperamos um milhão, e, desse total, 950 mil estão na Costa Leste. Mas estamos apreensivos quanto aos novos investimentos. Nós já temos dificuldade na nossa logística, estamos a 800 quilômetros dos portos e, por mais que se tenha alguns incentivos, estabelecidos pelo plano [estadual florestal] lá atrás, a logística ainda é desfavorável”, pontuou.
Para o representante da Reflore, a taxa do Fundersul traz uma incógnita para o Estado em relação à vinda de novos empreendimentos da cadeia florestal. “A empresa vai ter de fazer o seu custo e os mais prejudicados serão os produtores. Vai ficando cada vez mais difícil [o setor] se consolidar, por causa também da logística, e essa taxa vai tirar competitividade”, alertou.
Para o ano que vem, avalia, o produtor dependerá ainda mais de financiamentos, juros mais baratos e compatíveis com a atividade, que tem prazo de retorno variável, dependendo do produto da cadeia. No caso do eucalipto, são sete anos, para a madeira serrada, de 14 a 15 anos.
Do Correio do Estado