Parabéns Mato Grosso do Sul!
Data de Publicação: 10 de outubro de 2021 13:36:00 Por Aparecido de Souza
Revisitando minha infância no interior paulista, lembrei-me que o meu primeiro contato com as maravilhas dessa terra sui generis, ocorreu por meio de um álbum de figurinhas PING PONG Pantanal, lançado no ano de 1990. Os tuiuiús, jacarés, onças-pintadas, capivaras, sucuris, antas, araras, tucanos, peixes e as borboletas multicores estampadas nas figurinhas rapidamente despertaram nos meninos e nas meninas o desejo de conhecer mais sobre esse importante bioma brasileiro. Além de descortinar a fauna e a flora pantaneira, quem conseguia completar o álbum exibia-o na escola e repousava com o sentimento de missão cumprida. Movido por esse ímpeto, gastei todas as moedas conquistadas nas vendas dos picolés do senhor Waldemar, na compra de chicletes na esperança de conseguir novas figurinhas e assim, completar o meu álbum.
Aquele sentimento de frustração por não ter alcançado o objetivo, com o tempo, foi pulverizado e substituído por gratidão, vez que o investimento pode ser considerado muito irrisório se comparado aos conhecimentos adquiridos sobre o estado me acolheria com muito carinho quase três décadas depois. Nosso querido Mato Grosso do Sul, berço de José Vítor Leme, Helena Meireles, Jânio Quadros, Di Ferrero, Glauce Rocha, Lídia Baís, Marly Marley, Aracy Balabanian, Luiza Brunet, Luan Santana, Ney Matogrosso, Tetê Espíndola, David Cardoso, Almir Sater e de tantas outras celebridades e anônimos, porém, não menos importante, está completando 44 anos existência neste dia 11 de outubro.
Mais que comemorar a emancipação do sul do estado, a data convida-nos a conhecer e refletir sobre alguns movimentos, avanços e tensões desencadeados ao longo de um processo iniciado na etapa final do século XIX. Os livros que circulam nos bancos escolares informam que na época havia grande descontentamento do sul com a administração do estado de Mato Grosso e com o isolamento em relação a Cuiabá. Esses fatores acrescidos de um aumento demográfico significativo e do crescimento econômico do terceiro maior estado brasileiro na época, são apontados como propulsores dos chamados movimentos separatistas.
O primeiro movimento aconteceu no contexto da Guerra do Paraguai (1864-1870). Após o término desse conflito, muitos ex-combatentes se estabeleceram em terras da região sul do estado e lá se dedicaram à agricultura e a extração da erva-mate. Muitos pecuaristas que buscaram refúgio em Cuiabá decidiram retornar para o sul do estado. Houve ainda uma corrente migratória de gaúchos que fugiram da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul (1893-1895) e seguiram em direção às áreas de campos limpos do sul do estado.
As queixas dos moradores da região sul recaíam principalmente sobre a falta de atenção e da necessidade de ampliação de recursos para a região sul, vez que muitas cidades haviam sido destruídas durante o conflito.
O descontentamento fez surgir o movimento emancipatório chamado “Revolução de Jango Mascarenhas”, na cidade de Nioaque em 1900. O fazendeiro líder desse movimento foi derrotado e morto em combate no ano de 1901, às margens do rio Taquarussu. Seis anos depois, foi deflagrado outro movimento na cidade de Bela Vista. O fazendo que liderou a insurreição contra o governo do estado de Mato Grosso, acabou sendo derrotado após 4 anos de luta armada.
Durante a Revolução Constitucionalista (1932), ocorrida nos primeiros anos do Governo Vargas (1930-1945), Cuiabá permaneceu fiel aos interesses do Governo Federal, entretanto, os mato-grossenses do sul aliaram-se aos paulistas. Nesse período, foi criada a Liga Mato-Grossense (1934) como tentativa de preservar o ideal separatista e reorganizar um movimento pela autonomia. Muitos mato-grossenses do sul encaminharam uma mensagem aos representantes de Mato Grosso na Assembleia Constituinte, solicitando a formação do estado de Maracaju.
Ainda no Governo Vargas, teve início um movimento no sentido de incentivar o desenvolvimento e o povoamento do interior do Brasil. Para isso, foram criados cinco novos territórios federais em 1943, entre eles, Ponta Porã, composto por oito municípios da região sul do antigo estado do Mato Grosso.
Buscando ocupar a região fronteiriça com o Paraguai e pulverizar o poderio da Companhia Mate Laranjeira, o Governo Federal implantou a Colônia Agrícola Nacional de Dourados. A região dividida em lotes que foram cedidos principalmente para colonos oriundos da Região Nordeste, resultou no povoamento e no surgimento de vilas e municípios. Apesar da criação do território de Ponta Porã representar um grande passo para a divisão do estado de Mato Grosso, acabou sendo extinto em 1946, com a promulgação da Constituição Federal.
Com o desenvolvimento econômico do sul do estado de Mato Grosso, a ideia de divisão do estado foi reativada. O Governo Federal decidiu formar uma comissão para apreciar a divisão de Mato Grosso. Finalmente, o presidente Ernesto Geisel sancionou a lei que dividiu o Estado em 11 de outubro de 1977. Foi criado assim, o estado de Mato Grosso do Sul, com capital em Campo Grande. Harry Amorim Costa foi nomeado como governador do estado e empossado em 1º de janeiro de 1979.
No ritmo do Chamamé e/ou da Polca Paraguaia, quero saudar a terrinha do Trem do Pantanal, da guavira, tereré, arroz carreteiro, chipa, sopa paraguaia e do churrasco, bem como das famílias holandesas, japonesas, comunidades quilombolas, indígenas, colônias paraguaias e tantos outros povos que aqui aportaram. Enfim, de Mundo Novo a Coxim e de Bodoquena a Bataguassu, salve o nosso querido Mato Grosso do Sul.
Aparecido de Souza é Mestre em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), professor de História nas escolas Eduardo Batista Amorim, Iracy da Silva Almeida e São Sebastião - Ribas do Rio Pardo (MS). É autor do livro Vitinho: breve história do cowboy que conquistou o mundo.