Crônica Narrativa: O Jota em Ribas do Rio Pardo
O J tem prevalecido na direção, no comando do município.
Jaciara, como vai chamar o seu filho? Será Jair. Meu pai, antes de morrer, havia me dito que queria um neto com esse nome. Os meus sete irmãos receberam os registros de nascimentos iguais a dos ex-presidentes do Brasil que começam com a letra J.
Esse diálogo provocou meus pensamentos. Um tanto curioso todos receberem nomes com essa letra. Resolvi pesquisar esse grafema.
Ele tem muitas curiosidades, uma personalidade forte, uma história interessante. Não existia nos alfabetos Hebraico, Grego e no Latim. Foi a última letra a ser incorporada no alfabeto nos meados de 1500. Surgiu juntamente com a descoberta do Brasil. “Se o alfabeto fosse um time de futebol, poderíamos dizer que o jota é o principal jogador, o camisa 10”. É a décima letra.
Aproximadamente em 1600 é que se usa o i na sua forma atual com o pontinho, e igualmente, parece ter acontecido com o j. Tinha duas espécies de i – o vogal, propriamente dito, e o i consoante, que era o j. A confusão entre estas duas letras na escrita prevaleceu por um certo tempo, quando as duas formas i e j começaram a aparecer separadas. É natural, ou possível, que o ponto se tenha passado a usar para maior clareza na interpretação da letra.
Quando estudamos química na escola percebemos que não aparece na tabela periódica. Simples a resposta: a tabela periódica foi feita em latim e nesse idioma não existia a letra "j". Essa eu não sabia!
Essa letrinha causou enorme problema no meio cristão, pois a igreja primitiva nunca usou um nome com a letra J. Os profetas e os apóstolos não a conheceram, e pior, muitos acreditavam que Jeová não era o nome do Criador justamente por causa dela.
A consoante j e a vogal i têm a mesma origem no latim, por isso que a inscrição INRI da cruz de Cristo, significa Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus. Bota confusão nisso!
Bom, para quem acredita na numerologia, é uma pessoa independente, pioneira, criativa, líder nato, tem autoconfiança, liderança, ambição, coragem, independência. Seu significado como substantivo masculino quer dizer pouca coisa, bocado. No feminino refere-se a dança e a música característica de Aragão, na Espanha.
Gostei mesmo foi da historinha da Tia Mirna, que é uma professora da primeira série do primário, que contou, dizendo à classe que, antigamente, havia a escola do alfabeto, onde estudavam todas as letras. Como as letras “i” e “j” fizeram muita bagunça, a diretora lhes colocou um sinal sobre a cabeça como forma de castigo. O “i” e o “j”, obrigatoriamente, não puderam tirar aquele ponto. Todavia, o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, suavizou o castigo, deixando de existir o pontinho sobre o J maiúsculo. Creio que a Vogal U era bem mais arteira. Deram dois pontinhos e o chamaram de Trema (ü). Felizmente, agora, ganhou a liberdade com a exclusão do trema do alfabeto da Língua Portuguesa.
Você escreveu, escreveu, contudo, até agora não disse o que o J tem a ver com a nossa cidade. Tudo bem, tem razão, simbora lá!
Está registrado que a formação do povoado aconteceu provavelmente em 1900, quando, concretamente, houve a fixação dos primeiros moradores: João dos Santos e José dos Santos. Poderíamos dizer que eram os irmãos JJ (Jota, Jota). Mineiros de Uberaba que fizeram residências, e posteriormente, abriram comércio próximo à confluência dos Rios Bota e Pardo. São os fundadores da cidade de Ribas do Rio Pardo.
Mais adiante José Coleto Garcia faz a doação de parte das terras da Fazenda Rio Pardo para a construção da estação de parada de trem e a estrada de ferro da Noroeste do Brasil – NOB. Foi o primeiro professor e o nome dado à primeira rua da cidade, paralela aos trilhos de ferro. As próximas ruas se chamaram, respectivamente, José dos Santos e João dos Santos.
Nome da primeira escola? João Ponce de Arruda – JOPA. “Por uma letra a sigla não recebe o nome de JOTA”.
Jesuíno Álvares de Barros, fez parte da primeira legislatura da Câmara de Vereadores. Foi duas vezes eleito vereador (1944–1950/1955–1959). O seu nome foi dado a uma avenida.
João Jacinto Garcia, seu Leca, filho de José Coleto Garcia, participou do legislativo por dois mandatos (1970–1973/1973–1977). Recebeu, também, nome de rua.
Tivemos vereadores como João José Alves, Joliveto Bento de Souza, Joaquim José dos Santos, José de Almeida, José Wanderly Scarpin e muitos outros.
Cidadãos, moradores, homens e mulheres Rio-pardenses que tanto contribuíram para o desenvolvimento e o crescimento do nosso município como Justino Rangel, José Alves, José Gregório de Oliveira, o médico Doutor José Maria Marques Domingues, Joaquim Francisco Lopes, João Pereira de Brito (Jacaúna), José Cunha Amorim, (seu Zé Amorim), assim como muitos mais.
O interessante mesmo aconteceu no Executivo, mais precisamente na cadeira mais poderosa de uma municipalidade. No ano de 1988 o presidente do Brasil era José Sarney. Não sei dizer se teve influência, mas foi o primeiro prefeito que elegemos em que o seu nome começasse com a consoante j. José Miguel Sanches Vigilato (PTB), venceu Augusto Vissoto Filho (PDT), Ciro Abes (PDS) e Joaquim Ricartes Oliveira Neto (PMDB).
Em 1992 João Niero Friosi (PSDB) ganhou de Francisco Rodrigues de Souza (PST) e de Augusto Vissoto Filho (PDT).
Já em 1996 a população eleitoral tornou vitorioso José Domingues Ramos (PSDB) – popular Zé Cabelo. Em segundo ficou José Miguel Sanches Vigilato (PTB) e em terceiro, Paulo Humberto Campos (PMDB).
O ano era 2000 – mudança de milênio, acontecimento do bug e o mundo, felizmente, não acabou – e na disputa dos jotas, José Domingues Ramos (PSDB), reeleito, derrotou João Niero Friosi (PFL). Entretanto, a justiça o afastou (cassação). Houve alternância de prefeitos no poder. A cidade teve cinco gestores municipais diferentes neste mandato. Desde então, nunca mais o povo Ribense optou pela reeleição.
Joaquim Santos de Oliveira (PSDB) em 2004 é o novo gestor da cidade deixando em segundo Roberson Luiz Moureira (PPS), e em terceiro, João Alfredo Danieze (PHS).
O povo em 2008 decide não querer o j. O candidato Roberson Luiz Moreira (PPS), tendo como candidato a vice-prefeito João Alfredo Danieze, vence José Domingues Ramos (PSDB).
Na eleição de 2012 três candidatos na corrida eleitoral. Dois nomes com j na briga. A população decide pela não reeleição e o jota volta ao Poder Executivo. José Domingues Ramos (PSDB) vence Roberson Luiz Moreira (PPS) e João Alfredo Danieze (PHS).
Os Rio-pardenses parece que combinaram em 2016: não vamos eleger ninguém com o j no início do nome. Paulo Cesar Lima Silveira – conhecido como Paulo Tucura (PMDB), vence João Ricardo Azevedo Pegolo (PEN), tendo Joaquim Santos de Oliveira como candidato a vice-prefeito na chapa, João Alfredo Danieze (PSOL) e Kleber Rodrigues de Souza (PTN).
Ano bissexto, 2020, Ribas do Rio Pardo apresenta seis (6) candidatos na campanha. Se não fosse o Jota e com exceção de uma vereadora, teríamos uma corrida eleitoral, praticamente, de novatos, iniciantes na política. Os seis candidatos a vice-prefeito nunca haviam participado de uma eleição, e também, quatro dos candidatos a prefeito, jamais concorreram ao Executivo Municipal. Sabe quem foram os mais votados? Os jotas.
O povo queria como eleito, Acreditando que Ribas só teria jeito, Com o 50 na urna e no peito,
O povo votou e o jota venceu o pleito.
João Alfredo Danieze (PSOL) empossado como o novo prefeito ganhando de José Domingues Ramos (PSDB), Nilson Pereira de Góis (DEM), Marco José Teixeira (Solidariedade), Tiago Nossa Friosi (PSD) e Fabiana Silveira Galvão (MDB).
Minha gente, é uma “jotaiada” danada! O J tem prevalecido na direção, no comando do município. E aí, será que na próxima eleição vai dar jota ou não? Só estando no futuro para sabermos. Até lá...
Por Adriano Aparecido Nogueira