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Excluindo para sempre...

Excluindo para sempre...

Data de Publicação: 3 de junho de 2021 15:48:00

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É preciso fazer uma faxina. O seu dispositivo está muito carregado, praticamente cheio, assim disse um amigo técnico, profissional no assunto de tecnologia. É verdade mesmo, gente. Está travando. Não é desculpa para sair de grupo, não. Também, um “bichinho” tão pequeno, não sei como tem tanta memória. Com essa cabeçona, às vezes, esqueço até o meu número de telefone. Vou ter que perder algum tempo para escolher e decidir o que deletar. 

Essa foto, esse vídeo, apagando, limpando. Opa, peraí, essas imagens de jeito nenhum. Tenho que guardá-las. Recordações boas, momentos agradáveis. Essas mensagens sobre Deus, de autoajuda tão lindas, mas são muitas, demais. Tenho que apagá-las. E isso aqui? Misericórdia! Esta imagem ninguém pode ver, segredo. Vou ter que aprender a usar adequadamente essa ferramenta para não passar vergonha, evitar esses acúmulos e preservar só o necessário.

Meus Deus, essa foto, meu amigo querido, que saudade! Fico olhando, atônito, emocionado. Pausa no ofício. O lamento se apossa de mim. Os pensamentos, as lembranças, as recordações. Uma mistura de sentimentos inexplicáveis e sem dimensão, toma conta de minha alma, sem justificativas para a sua morte. Ontem estava aqui, hoje já se foi. Tão rápido. Lembrei que seu nome está na minha agenda, nos meus contatos telefônicos. Vou excluí-lo. 

Todos nós iremos partir deste paraíso um dia, ou de noite, isto é certo, contudo, jamais sequer, imaginei nesses longos anos de vida, que seria um expectador de uma pandemia que causaria uma mortandade no mundo afora. Novo Coronavírus, doença Covid-19, as duas palavras têm significados diferentes, entretanto, a maioria das pessoas acreditam ser a mesma coisa, mas com certeza, nem sabemos o que é isso. Um emaranhado de informações e desinformações. 

Usem máscaras, higienize as mãos com água, com álcool, não chegue perto, fique em casa, vem a terceira onda, evite as aglomerações. Fecha tudo, ou quem preferir, “lockdown”. Olha a curva, estamos no pico, criaram as vacinas, uma nova variante, não tem imunizante para todos, parece que nada resolve. São somente paliativos. Sofrimento, dor, hospitais lotados, humanos agonizando mesmo fazendo uso de botijões de oxigênio, outros entubados, lutos e muita gente insensível a tudo isso. 

A culpa é de cada um. Não, a população toda é responsável pelo contágio. Outros dizem que é dos nossos governantes. Invisível aos nossos olhos, o vírus pode ser silencioso, dissimulado, ou pode se manifestar com inúmeros sintomas. Diabólico. Todos vivendo na pele, na carne essa praga. Os noticiários revezam entre os termos “cura e morte”. Ambos caminhando lado a lado. Contabilizamos a passagem de mais de quatro dezenas de pessoas em nossa cidade. Aqui, como no planeta inteiro, publicamos os números das vítimas fatais para chamar a atenção, dar um alerta, demonstrar o tamanho da tragédia e dizer que estamos todos vulneráveis. E, de uma certa forma, os que não partem, que ficam morrem um pouco, pois, além de sofrerem com os falecimentos dos seus, com a saudade, lidam dia a dia com a distância dos familiares, com o medo, com a insegurança, com a incerteza. 

Ufa! Respiro. Está me dando a sensação de falta de ar. Enfim, preciso apagar o contato da minha agenda. Com um click na tela digo adeus ao meu colega. 

Meio perdido ainda, vou rolando a lista. Espere aí. Essa minha amiga também faleceu. Mais um amigo. Apagando. Que triste! Esse conhecido também se foi. O professor, o pedreiro, o nosso médico, ainda tão jovem essa moça. O motorista de táxi. Excluindo para sempre... Dois comerciantes, esse nem desfrutou da aposentadoria, o avô do meu amiguinho. 

Como pode acontecer de subtrair, de uma vez, doze vidas? Uma dúzia de perdas. Não há mais como trocarmos mensagens, ligações, áudios nesse plano terrestre, infelizmente. Fica um vazio. Algo sem resposta. Chega de emoção e vê se acalma coração! 

Pensando bem, vou enviar uma mensagem aos amigos que ainda estão on-line, ou seja, vivos.

“Um vírus desconhecido, mutante, letal, está à solta. Estamos fazendo com que ele circule ligeiro entre nós. É uma guerra, uma luta. Para vencer temos que ficar juntos, unidos, de mãos dadas, numa só corrente positiva, porém, fisicamente, temos que permanecer distantes, obedecendo e respeitando as medidas e as normas de proteção determinadas pelos nossos anjos da medicina. Zelemos pela vida uns dos outros. Quando você se cuida e se protege, você está fazendo o mesmo por mim. Desejo muito que permaneça nos meus contatos, e que também, não precise, em algum momento, deletar o meu nome da sua agenda”.

Enviando...

Por Adriano Aparecido Nogueira em 31 de maio de 2021

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